Gás Mostarda
ARMA QUÍMICA
Principais vias de exposição:

As células endoteliais oculares expostas ao gás mostarda sofrem apoptose, resultando em efeitos dependentes da dose após um intervalo de tempo de 30 minutos a oito horas [2].

Áreas do corpo que possuem alta concentração de glândulas sudoríparas, como as virilha e as axilas, ajudam a facilitar a absorção do gás mostarda. Os efeitos agudos desenvolvem-se após um período de latência que pode ir até 24 horas [1],[2].

A extensão dos sintomas respiratórios da exposição ao gás mostarda depende da duração da exposição e da quantidade de agente que foi inalado. O início dos sintomas geralmente começam 4-16 horas após a exposição inicial. [2],[3]
Olhos
As manifestações oculares agudas do gás mostarda são agrupadas em três categorias de lesões, com base na gravidade:
Leves - Os sintomas são descritos como uma sensação de corpo estranho no olho e sensação de dor. O olho pode ficar com aparência vermelha e o exame físico revela edema dos vasos na conjuntiva. Ocorre, geralmente, lacrimejo, irritação e inchaço [1], [2].
Moderados - A lesão moderada afeta a córnea, a conjuntiva e a pálpebra. Os sintoma são semelhantes ao que ocorrem em lesões leves [2].
Lesões graves - pode haver blefaroespasmo e quemose [2].
Os efeitos oculares a longo prazo podem ser:
1. Resolução completa - A recuperação pode demorar entre 48 a 72 horas e a regeneração completa do epitélio da córnea ocorre dentro de 4-5 dias. O paciente ainda pode se queixar de fotofobia após o período de seis semanas, mas eventualmente todos os sintomas desaparecem [2].
2 Manifestação crónica persistente - A inflamação contínua produz sintomas como fotofobia, sensação de corpo estranho e olho seco que são consistentes com um decurso crónico.
No exame físico, podemos encontrar isquemia limbal, erosões da córnea e neovascularização da córnea. A inflamação persistente resulta em irregularidade e erosão da córnea que podem levar à perfuração [2].
3. Início tardio - As manifestações tardias podem apresentar um início abrupto num período de 1 a 40 anos após a exposição inicial.
As características atribuídas às manifestações tardias incluem isquemia limbal, neovascularização da córnea e irregularidade, blefarite crónica, disfunção da glândula meibomiana e olho seco [2].
Pele
Os principais sintomas são semelhantes ao de uma queimadura por outros produtos, ocorrendo vermelhidão inicial e prurido na pele que podem ocorrer 2 a 48 horas após a exposição podendo, eventualmente, evoluir para bolhas que podem ter diversas dimensões [1].
As cicatrizes provocadas pela exposição a este químico variam na forma e podem ter uma aparência atrófica, hipertrófica ou quelóide. As condições persistentes da pele, como eczema, dermatite seborreica, angioma e urticária, também demonstraram estar associadas à exposição ao gás mostarda. Embora o gás mostarda possua efeitos cancerígenos, os dados não suportam um risco aumentado de cancro de pele em vítimas de exposição a curto prazo a este composto [2].
Sistema Respiratório
1º Sintomas:
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Espirros e tosse;
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Sangramento nasal;
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Dor sinusal;
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Dispnéia;
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Dor de garganta e rouquidão. [1],[2].
Estes problemas respiratórios podem evoluir para edema e eritema da faringe e árvores brônquica causando broncoespasmo, que leva a obstrução da árvores brônquica, acumulação de secreções e formação de pseudomembranas. Em casos mais graves, edema pulmonar, broncopneumonia, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e embolia pulmonar podem ocorrer levando a falência respiratória e morte 2 semanas após a exposição [2],[3],[4].
A recuperação da exposição aguda varia dependendo da presença de infecções secundárias e pode demorar entre um a dois meses [2].
Vários estudos indicam que os sintomas de início tardio podem ocorrer 15 anos após a exposição em indivíduos inicialmente assintomáticos. Essas queixas respiratórias consistem em dispnéia, tosse crónica e aumento da produção de muco secretado pelas membranas mucosas [2].
Nestes esses indivíduos, o exame físico pulmonar mostra ruídos respiratórios e diminuição dos sons respiratórios normais. A hiper-responsividade das vias aéreas e a bronquite crónica são outros efeitos respiratórios tardios comuns. As infecções respiratórias recorrentes também causam o desenvolvimento de bronquiectasias (dilatação e destruição de brônquios de elevado calibre causada pela infecção e inflamação crónicas) [2].
Por se tratar de um composto carcinogénico para o Homem, a exposição ao Gás Mostarda está associada ao desenvolvimento de cancro no trato respiratório, nomeadamente, carcinoma da nasofaringe e carcinoma broncogénico [3].

Nota:
Ainda que com menos relatos, a exposição ao Gás mostarda pode ocorrer através do trato gastrointestinal por consumo de alimentos contaminados. A sintomatologia descrita inclui náuseas, vómitos, anorexia, dor abdominal e diarreia [4].
Para além da sintomatologia associada aos órgãos alvo podem ocorrer outras complicações, nomeadamente a nível neurológico, desde complicações psiquiátricas a complicações neuromusculares [4],[6].
Além disso, o gás mostarda pode pode causar efeitos longo prazo na medula óssea, com afecção do sistema imunológico e hematológico em pacientes com intoxicação grave. Estas alterações provocam imunossupressão, levando a um aumento do risco de infecções nesses pacientes, para além de anemia aplástica [4],[5],[6].
Complicações psiquiátricas [4],[5],[7]
As manifestações são várias e incluem: comprometimento da memória, anormalidades comportamentais e distúrbios no desempenho social. Podem também manifestar-se insónias, ansiedade, stress pós-traumático. Casos mais graves incluem depressão, convulsões e psicose.
Complicações Neuromusculares [4],[5],[7]
Os distúrbios neuromusculares são mais comuns nos nervos sensoriais do que nos nervos motores. Sendo que estas neuropatias são mais comuns nos membros superiores do que nos inferiores.
As complicações neuromusculares são causadas por toxicidade sistémica.
Referências:
[1] Centers for Disease Control and Prevention., 2018. Facts About Sulfur Mustard. [online] Emergency.cdc.gov. Disponível em: <https://emergency.cdc.gov/agent/sulfurmustard/basics/facts.asp> [Consultado a 4 de Março de 2020].
[2] Wattana, M., & Bey, T. (2009). Mustard Gas or Sulfur Mustard: An Old Chemical Agent as a New Terrorist Threat. Prehospital and Disaster Medicine, 24(01), 19–29
[3] Poursaleh, Z., Harandi, A., Vahedi, E., & Ghanei, M. (2012). Treatment for sulfur mustard lung injuries; new therapeutic approaches from acute to chronic phase. DARU Journal of Pharmaceutical Sciences, 20(1), 27
(4] Balali-Mood, M.,& Hefazi, M. (2005) The pharmacology, toxicology, and medical treatment of sulphur mustar poisoning. Fundamental & Clinical Pharmacology, 19, 297–315
[5] Balali-Mood, M., Mousavi, S., & Balali-Mood, B., 2008. Chronic health effects of sulphur mustard exposure with special reference to Iranian veterans. Emerging Health Threats Journal, 1.
[6] Ghabili, K., Agutter, P. S., Ghanei, M., Ansarin, K., Panahi, Y., & Shoja, M. M. (2011). Sulfur mustard toxicity: History, chemistry, pharmacokinetics, and pharmacodynamics. Critical Reviews in Toxicology, 41(5), 384–403.
[7] Darchini-Maragheh E, Balali-Mood M. Delayed Complications and Long-term Management of Sulfur Mustard Poisoning: Recent Advances by Iranian Researchers (Part I of II). Iranian Journal of Medical Sciences. 2018 Mar;43(2):103-124.
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